quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sorrindo

Estou a sorrir. Que mais posso eu fazer neste momento, enquanto o meu mundo se desmorona com saudades tuas? Devo deixar os meus joelhos cederem, como se já não tivesse forças para suster o meu corpo, porque o teu amor me retirou toda a vitalidade? Devo eu afogar-me nas mágoas, naquelas que eu enchi com lágrimas, cada uma representando um pensamento de ti?

Não, eu quero sorrir. Porque ainda sou feliz contigo nos meus pensamentos. Ai meu mundo imaginário, como tu me fazes flutuar com imagens proibidas. Os teus lábios são flores com os sabores mais tentadores, flores que eu quero colher suavemente com os meus próprios lábios, numa dança de amor e sedução. Dá-me a mão. Vem comigo. Saltemos para o mundo real e todos estes desejos serão materializados nos nossos corpos.

Estou farto de olhar para ti, sem te ver, e sabendo que no teu olhar dançam pensamentos impróprios e tão apropriados. Seremos sombras na noite enquanto te agarro na cintura e tu pousas as tuas mãos nos meus ombros e valsamos em direcção à Lua. E, se o meu coração deixar de bater devido ao estado de êxtase, que eu morra com os nossos corpos ligados, deixando em ti, o último pedaço de mim.

Amor, sei que não me ouves, mas eu vou continuar a sorrir. Por mais longe que estejas, eu sempre posso alcançar a tua mente, através das recordações a que os outros intitulam, banalmente, de felizes. E espero que possas sorrir comigo, enquanto te dedico, movendo os meus lábios sem emitir qualquer som, as palavras que gravei no teu coração.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Lágrimas

Há muito que temia a chegada deste dia. Sabia exactamente que chegaríamos a este ponto em que a nossa existência mascarada de pacífica se desmoronaria e tal acabou por acontecer. Eu queria que assim fosse. Tolo, tolo, tolo. Se não fosse tão presumido talvez o desfecho fosse diferente.
Mas pago com lágrimas cada erro cometido. É um preço mais que justo.

Mesmo que existam palavras que possam ser proferidas, sejam elas para aliviarem maus momentos ou tentativas de reatar laços, eu não as quero escutar. Procuro uma mudança, um rumo, porque há muito que perdi o meu e tenho simplesmente navegado por aí, na incerteza, sem definição.

Não sei se terei forças para tal. Sinto-me tão impotente, enquanto vejo tudo aquilo que construí e que julgava tão forte, ruir com ligeiros sopros teus diante dos meus olhos. Quero abrigar-me. Fechar os olhos e fingir que nada disto está a acontecer. Fingir que ainda podemos ser felizes, juntos.

Contudo, seria um acto infantil, correcto? Disso também vou deixar-me. Eu sabia que isto iria acontecer, ou não tivesse rabiscado aquela frase profética num pedaço de vida improvisado. Agora repito-ta e completo-a: dou-te um sorriso, porque de lágrimas estou pobre, porque tu fizeste com que as derramasse todas.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Eternidade Cega




Foram dois dias, talvez três. Perdi a noção do tempo por causa da dormência que se apoderou do meu corpo nesses dias de frio. Pois, do frio recordo-me bem. O céu descarregou a sua fúria sobre mim, lançando ora correntes de neve de um branco tão admirável e mortal ora trovões e relâmpagos que preenchiam a atmosfera libertando rugidos de fazer tremer qualquer guerreiro.

A minha companhia era nada, pois nada eu me sentia. Talvez por estar sozinho, acompanhado de ninguém ou talvez por a minha companhia estar demasiado longe de mim. Ou pelo menos longe de onde importava estar. Sei que senti o meu corpo se partir em mil, sendo cada ínfima partícula do meu ser devorada pela dor de desaparecer sem ti. Contudo eu reunia-me de novo rapidamente, somente para me estilhaçar de novo.

Coitada da minha mente que se enganava com imagens do tempo em que éramos felizes. Em que tínhamos sorrisos desenhados nos rostos e usávamo-los com frequência desmedida, sem nos preocuparmos com a possibilidade de um dia eles se acabarem. E, no entanto, eles acabaram-se. Acabaram-se os sorrisos ligeiros, as gargalhadas de felicidade, os abraços de compreensão e os beijos de ternura que trocávamos.

Juro-te, gostaria de ter novamente uma oportunidade de te responder. Naquela altura, tudo era para mim apenas um jogo: tinha um tabuleiro, muitos peões e os dados na minha mão. Como pude ser tão imbecil? Se pudesse derramar lágrimas, há muito que eu o tinha feito. Mas não posso fazê-lo e então choro internamente. Pois tu levaste os meus olhos no dia em que me disseste “Não me vejas com os olhos, vê-me com o coração”. E desde aí, nunca mais te vi.