terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Odeio.


Às vezes pergunto-me se serás dotada dos atributos mentais que dizes possuir. E sim, falo da tua inteligência! Terei que soletrar-te um "não" para que possas aperceber-te de todo o simples significado da palavra? No meu mundo há limites e, deixa-me que te diga, se voltas a passar da barreira estabelecida só te vais magoar...

Eu não gosto de sombras a percorrer o mesmo caminho que os meus pés percorrem. Eu não gosto de outros ouvidos a escutarem as palavras que seguem o trilho dos meus ouvidos. Eu não gosto que mais nenhum olhar se foque no ponto em que os meus olhos estão focados. Eu não gosto que suguem os odores que estão destinados a serem captados por mim. Eu não gosto que agarrem o que o meu toque estava destinado a sentir. Na verdade, odeio tudo isso...

Precisas de te concentrar no teu rumo e deixar de seguir as minhas passadas. Os bebés da tua idade já não choram quando lhes é roubado o seu doce. Contudo, tu choras por todos os doces que nunca chegaste sequer a possuir. Faz-te pessoa e limpa as lágrimas do teu rosto. Não te escondas por detrás de bochechas ruborizadas, sorrisos forçados ou garrafas vazias. E cresce.

Digo-te: eu odeio tudo o que te disse.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Miragem

Gostei mais daquele outro tempo...
Lembrei-me de quando tudo era como queria. De como era tão fácil fechar os olhos e imaginar tudo aquilo que eu queria ver. Apagar todas as imperfeições daquele universo que construí para alimentar os sonhos de uma criança que teimava em ser feliz.
Lembro-me de como tinha ideia de que me estava a enganar. De como tudo parecia desmoronar-se de todas as vezes que um detalhe me escapava. De como tudo me parecia ser uma ténue miragem que se dissolvia sempre que tentava agarrar-me a algo sólido da ilusão que criava.
Hoje em dia, vejo com olhos de ver, que estava redondamente enganado. Aquilo que eu julguei criar, afinal existia. A felicidade esteve sempre lá, sempre guardada para mim. Eu é que parecia não compreender o sentimento que me estava reservado, mas agora percebo-o...

E no entanto, hoje queria poder fazer o inverso daquilo que fazia quando aquela criança que morreu em mim residia. Queria ter o poder de desintegrar a solidez persistente de elementos da minha actual personalidade. Fazer desaparecer, ao toque, as imagens que eu não quero ter que recordar todos os dias. Eliminar o perfume que me atormenta sem sentir qualquer remorso porque, ele simplesmente não existiria.

Resumindo, ambiciono o poder de tornar ilusão todo o real que quero que não exista, sem me iludir com realidade do irreal. Por favor, torna-te miragem e desaparece ao meu toque.