sábado, 29 de janeiro de 2011

Norte

Neste momento, sinto-me completamente perdido. Não sei para que lado me virar. Pareço ter perdido toda a capacidade de raciocínio lógico. Observo, sentindo dentro de mim uma tremenda ânsia, as paredes do labirinto que me cercam. Elas parecem cair sobre o meu corpo inerte, devorando-me como nada mais que um insignificante petisco.
E é assim que o meu ser se categoriza: insignificante. Tal como um rato de laboratório, usado em mais uma experiência para um bem maior, sempre esperando que o bem procurado seja o seu.
Tudo luta contra mim. Declaro guerra ao mundo, combatendo com ninguém mais do que comigo próprio e o tempo, que me atira folhas de calendário à cara, tentando livrar-se de mim.
Ouço algo estilhaçar debaixo de mim. Por momentos, julguei que fosse o mundo que, farto de alguém tão imundo como eu, me quisesse engolir. Era nada mais que um espelho, agora despedaçado. E nele vejo o meu reflexo, tão estilhaçado quanto os seus fragmentos.
Não há mais nada a fazer. Pego no lenço branco que guardara imaculadamente no meu bolso e abano-o, rendendo-me. Não quero mais lutar. O meu corpo clama por descanso. Só quero fugir para longe de mim.

Contudo, imploro. Se alguém encontrar a minha bússola, que me dê o Norte, por favor.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Compras-me?

Hoje era dia de saldos lá na minha loja... E, mesmo assim, como os artigos não eram de uma marca altamente classificada, não houveram vendas.

Mais um dia e o mundo continua de olhos cerrados perante o que é realmente importante. Só importam preços e marcas. A qualidade é secundária. E vende-se caro o rasca, porque o rasca está na moda e todos querem estar 'modernos'. E ganham pó, nas estantes esquecidas, os livros cujas histórias levantariam mortos e fariam cair anjos.

De que vale ser o melhor, se o pior é que se vende? Juro que às vezes grito para mim próprio que deveria mudar e ser tão plástico como 99% do mundo o é... Usar aquela personalidade barata de generalizada utilização. Era fácil: decorava as falas de linhas curtas, comprava dois conjuntos de expressões faciais e desligava a minha mente. E zás! Tornava-me em apenas mais um número da população mundial.

No entanto, não o quero. Continuo no meu canto, longe dos 99%... esperando encontrar alguém que faça parte, assim como eu, dos 1%. No final, só espero que a esperança não morra comigo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

E, no fim...

Sei que talvez seja um pouco menos que nada neste momento mas, tu foste menos que as expectativas, que já eram nenhumas. Sendo assim, somos tanto quanto o outro, o que faz de nós humanos. Humanos que, como tolos iludidos por enfeites luminosos, esvoaçamos sempre à procura da luz mais brilhante. E fazemos da nossa vida círculos intermináveis de rotinas ocas e débeis.

E assim, passamos na noite ciclos lunares incontáveis, analisando com interesse desmesurado todas as repetidas fases da Lua. Soletramos para dentro palavras de compreensão, talvez uma compreensão um pouco lenta, de um mundo que pintamos com todos os detalhes esquecidos. E desenhamos e colorimos esse quadro com frases ecoadas de um túnel social debilmente construído.

E, no fim, esquecemos o que realmente importa: o nosso "eu" privado.

Porque, realmente somos quando ninguém de nós sabe. Aí, na solidão acompanhada de nós próprios, somos autênticos. Nessas raras e preciosas ocasiões pensamos os pensamentos que valem a pena pensar e sentimos os sentimentos que merecem ser sentidos. Só nesses eclipses sociais pesamos o valor de tudo o que nos rodeia.

Hoje, vivi um desses eclipses e perguntei-me : "E no fim, o que fui para ti?"

Juro, vou sentar-me no dia, para evitar observar de novo todas as fazes da Lua. Vou calar as vozes que ecoam no túnel social. E vou fechar os olhos para não ser atraído por aquelas luzes ilusórias. Farei isto até ouvir a tua resposta.