Quebram-se
na frágil memória recordações de um outro tempo. Existem batidas que deveria
sentir no meu peito mas, por capricho, nesses momentos o meu coração esquece-se
de pulsar. Perco horas que me caem do relógio para o chão e que se estilhaçam
em bocados infinitos de tempo. Apanho desse mesmo chão fragmentos de ideias e
sonhos que, apenas um pouco antes, fervilhavam dentro de mim e que agora são
somente minúsculos cadáveres. Procuro e procuro e procuro uma âncora que me
segure neste porto mas creio que há muito que este barco partiu. Peço um pouco
de silêncio ao vento que tenta consolar as lágrimas que se despenham a meus
pés. Deixo que os meus joelhos se verguem e embatam no solo duro e oco debaixo
de mim. Passo os dedos pelo chão, movido pelo desejo de sentir qualquer coisa.
Jogo-me, deito-me, procurando aquele contacto e numa tentativa de saber qual o
destino para mim reservado. Gostava de conhecer o futuro ao ler as tuas
palavras. Gostava de conhecer a minha sorte ao olhar as nuvens, e o sol, e o
céu. Embalo-me. Quero calar as perguntas, as dúvidas, as hesitações. Permito-me
navegar, sonhadoramente, pelos perfis que invejo. Hei-de encontrar confiança em
mim.