domingo, 18 de dezembro de 2011

Enlaçados


Ergo a cabeça do teu ombro e sorvo o ar por entre os dentes. O meu corpo arrepia-se com o conforto que o oxigénio trás, pois cada gole é uma necessidade da qual eu estou quase privado. Tudo porque estes laços me apertam o peito.

São extenuantes estes laços que me cobrem o corpo e que me enlaçam em todo o mundo. Alguns, de cor verde, são firmes e apenas me restringem suavemente os movimentos. Outros, de cor azul, são folgados e apenas se sentem pelo peso que me faz vergar. Os piores, de cor vermelha, espremem-me o corpo, retirando qualquer energia que me reste.

Contudo, insuportável é este laço que me une a ti. A sua cor é variável e a sua extensão indeterminável. Apenas sei que as suas duas pontas unem-se num intricado nó, no meu coração. E nada posso fazer, dominado pela vontade desta grilheta, que me comanda.

E eu tanto queria ter a opção de me libertar desta maldição que carrego. Poder estender os meus dedos e puxar por uma das pontas do nó. Observar enquanto a tira se solta e ondula até ao chão. Esse seria o sabor da liberdade.

Um dia, num devaneio, removerei o meu coração e desapertarei o nó que o envolve e o conecta a ti. Aquando da tua partida. Essa será a data da minha condenação e libertação. Até lá, vivo com o nosso laço.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Apoio



O mundo treme. A visão desfoca-se. Sentes-te perdido e desorientado. Dás um passo inseguro. Cais e esfolas-te. Cai uma lágrima. Caem duas. A dor é muita. O coração está frágil. O fôlego falta. O ar é escasso. Pedes ajuda. Uma prece silenciosa. Ninguém responde. O silêncio envolve-te. Sentes-te abandonado. O corpo esmorece. O frio chega. Estás paralisado. A tua sombra foge. Fechas os olhos. Controlas a respiração. Parece-te o fim. Preparas-te. Amoleces a alma. Corres de ti próprio. Surge uma mão. Segura-te o ombro. Outra levanta-te a cabeça. Um braço rodeia-te a cintura. Dedos rodeiam-te. O calor envolve-te. Voltas a ti. Já não queres partir. Chegou o teu apoio.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

E Nunca a Noite Foi Tão Fria



São horas do dia partir e o Sol põe-se por detrás da linha do horizonte, escondendo-se rapidamente para que a Lua não o alcance com o olhar. O manto negro começa a cobrir o céu, enfeitado de estrelas que, nesta noite precária e frágil, parecem ter um brilho baço. Até o vento, que normalmente é atrevido e ruidoso, hoje permanece quieto, brincando apenas com as folhas que decoram o passeio.

E, nesta noite em que tudo parece errado e deslocado, tu faltas-me. A tua ausência faz-se notar na minha cama, que está desabitada. Eu não me atrevo a nela deitar-me, pois seria como mergulhar num poço de recordações que, pela sua intensidade, me deixaria sem respirar. Então, aprecio a cama vazia, em honra das noites em que passámos horas abraçados, a sonhar um com o outro.

Um arrepio de frio desce-me pela coluna, assim que recordo do quão reconfortante era o calor do teu corpo. Lembro-me de como era extasiante sentir a tua pele pressionada contra cada centímetro do meu corpo; de como era divinal deixar os nossos lábios serem livres para percorrer os trilhos proibidos, aqueles que nos deixavam em delírio.

No entanto, tudo isso acabou numa fria noite de Dezembro. Eu disse-te palavras pequenas de mais para a minha boca e grandes demais para o teu coração e tu, fraquejaste e partiste. Deixaste-me num estado de dormência, sem qualquer reacção a não ser sentir a tua falta. E nunca a noite foi tão fria como é agora que estou sem ti.