segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Saberemos ser eternos?



Por agora, vivemos no momento
O futuro é uma incógnita distante
O passado é puro sentimento
O presente, um poema cantante.

No entanto, o dia há-de cerrar
Levando consigo toda a clareza
Os mares hão de se esvaziar
Deixando-nos inundados em tristeza.

Nessa altura, destacar-se-ão os valentes
Aqueles que de coragem se enchem
Para enfrentar as adversidades.
Serão eles os fundadores de cidades,
Pois os seus corações se preenchem
De sentimentos positivos e contentes.

E nós, banhados em momentos efémeros
Saberemos ser eternos?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Onde Havia Fumo (Não Havia Fogo)


Hoje somos uma memória
Somos um momento preservado
Somos algo a ser recordado
Respondemos à convocatória
Dos nossos sentimentos
Do nosso tão não-amor.

Uma lembrança de ti estará sempre associada a um sorriso e a uma lágrima. A verdade é que nunca hei-de conseguir tirar da boca o gosto agridoce que lá deixaste. Por vezes tão doce e depois tão amargo.
Ainda assim, mantenho-te num lugar bem quente do meu coração. Um lugar onde te posso confortar e te acolher. Um lugar onde não te posso beijar. Nesse lugar haverá sempre limites, sempre barreiras inultrapassáveis.
Mas a culpa é minha. Estava carente e necessitado do teu toque. Julguei que os teus beijos seriam o remédio que acalmariam os meus batimentos cardíacos. Como pude interpretar todas as pistas de forma tão errada? Parecia tudo tão certo que nunca pensei estar enganado. Afinal, onde há fumo, nem sempre há fogo. Esta foi a lição que me ensinaste.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Mais Sozinho Que Nunca


Era verão, disso tenho a certeza. Tínhamos chegado depois de um dia de praia e ainda havia vestígios de areia colada nos nossos corpos. Despimos a roupa e, em fato de banho, tomamos um delicioso e demorado banho. Saíste antes de mim e, quando cheguei à sala, lá estavas tu, nua, com aquele olhar ardente, aquele que me fazia ferver por dentro. Aquele olhar significava tudo o que nós sentíamos um pelo outro: paixão, desejo, amor.

Fizemos amor no sofá. E depois voltamos a fazê-lo na cama. Foi intenso, selvagem. Quase agressivo. Os nossos corpos devoravam-se furiosamente, tentando ao mesmo tempo deleitarem-se com o sabor. Agora que penso nisso, foi provavelmente o melhor sexo que alguma vez fizemos. Foi divinal, tão bom que nem notei o trago de final que me deixaste na boca. Como se avizinhasse uma despedida. Como se me fosses abandonar.

Ficamos horas deitados, contemplando-nos. Como sempre, a minha mão foi parar aos teus cabelos, fazendo os movimentos habituais que tanto apreciavas. Sempre que parava, tu incitavas-me a continuar. Agora penso: “sentes falta do meu toque no teu cabelo? Era por isso que não querias que cessasse?”. Mas claro, tu não estás cá para responder-me a estas questões. São duas que se juntam às centenas pendentes de resposta.

Numa altura, um pouco antes de adormecer, uma lágrima soltou-se dos teus olhos. Colhi essa lágrima com um dedo e levei-a aos lábios. Em seguida aproximei-me e beijei-te. Destas palavras lembro-me com clareza. Disse-te: “Sempre que te sentires triste, beijarei a tristeza para fora de ti”. Tu sorriste-me timidamente, voltaste-me as costas e enroscamo-nos, adormecendo de seguida.

Na manhã seguinte, acordei completamente sozinho. Não restava na cama, no quarto, na sala, em qualquer parte da casa, um vestígio da tua presença. Era como se tudo tivesse sido um sonho e, ao despertar naquela manhã, tudo tivesse terminado. Perdi o fôlego. Tentei fazer-me respirar normalmente durante horas, sem qualquer sucesso. Sentia-me a afogar em lágrimas. Sentia-me como se tivesse caído do paraíso e aterrado num inferno. Porque sem ti, senti-me mais sozinho do que nunca. Senti-me mais sozinho do que nunca naquela manhã em que me abandonaste.