Era verão, disso tenho a certeza. Tínhamos chegado
depois de um dia de praia e ainda havia vestígios de areia colada nos nossos
corpos. Despimos a roupa e, em fato de banho, tomamos um delicioso e demorado
banho. Saíste antes de mim e, quando cheguei à sala, lá estavas tu, nua, com
aquele olhar ardente, aquele que me fazia ferver por dentro. Aquele olhar
significava tudo o que nós sentíamos um pelo outro: paixão, desejo, amor.
Fizemos amor no sofá. E depois voltamos a fazê-lo na
cama. Foi intenso, selvagem. Quase agressivo. Os nossos corpos devoravam-se
furiosamente, tentando ao mesmo tempo deleitarem-se com o sabor. Agora que
penso nisso, foi provavelmente o melhor sexo que alguma vez fizemos. Foi
divinal, tão bom que nem notei o trago de final que me deixaste na boca. Como
se avizinhasse uma despedida. Como se me fosses abandonar.
Ficamos horas deitados, contemplando-nos. Como
sempre, a minha mão foi parar aos teus cabelos, fazendo os movimentos habituais
que tanto apreciavas. Sempre que parava, tu incitavas-me a continuar. Agora
penso: “sentes falta do meu toque no teu cabelo? Era por isso que não querias
que cessasse?”. Mas claro, tu não estás cá para responder-me a estas questões.
São duas que se juntam às centenas pendentes de resposta.
Numa altura, um pouco antes de adormecer, uma lágrima
soltou-se dos teus olhos. Colhi essa lágrima com um dedo e levei-a aos lábios.
Em seguida aproximei-me e beijei-te. Destas palavras lembro-me com clareza.
Disse-te: “Sempre que te sentires triste, beijarei a tristeza para fora de ti”.
Tu sorriste-me timidamente, voltaste-me as costas e enroscamo-nos, adormecendo
de seguida.
Na manhã seguinte, acordei completamente sozinho. Não
restava na cama, no quarto, na sala, em qualquer parte da casa, um vestígio da
tua presença. Era como se tudo tivesse sido um sonho e, ao despertar naquela
manhã, tudo tivesse terminado. Perdi o fôlego. Tentei fazer-me respirar
normalmente durante horas, sem qualquer sucesso. Sentia-me a afogar em
lágrimas. Sentia-me como se tivesse caído do paraíso e aterrado num inferno.
Porque sem ti, senti-me mais sozinho do que nunca. Senti-me mais sozinho do que
nunca naquela manhã em que me abandonaste.