terça-feira, 29 de novembro de 2011

Fractura de Um Amor Condenado



[Ele: Rio de Sentimentos; Ela: Madrugada Cruel]

Ele: Hoje, o vento sibilou-me ao ouvido, tal serpente venenosa, transportador de maus agoiros, que a tua partida finalmente tinha chegado. Eu encolhi-me sobre as suas carícias, tentando aconchegar o meu coração que chorava desconsoladamente, agredido pela brisa violenta das novidades trazidas. Contudo, apesar das minhas tentativas de consolo, o insensato órgão recusava-se a aceitar o que há muito fora escrito nas ténues folhas do destino. Canalizei-lhe a minha fragilizada esperança, sensação que, no entanto, não restava em qualquer parte de mim.

Ela: Senti-me demasiadas vezes neste papel branco e nesta caneta que teima em não escrever. Faltam-me os termos e sobretudo a coragem mas partir é inevitável. Prendo-me no desejo de revelar-te que o faço por ser imperativo e não uma vontade, mas temo que magoe demasiado a tua força interior. Quedo-me no silêncio, esperando, ainda que receosa, que um dia possa explicar-te, sem vírgulas ou pontos finais, os motivos destes meus devaneios.

Ele: Suspiro, enquanto deixo os meus joelhos se vergarem e me ajoelho diante da tua fuga, enterrando as mágoas e as mazelas que me deixas como lembretes de uma outrora presença tua na minha vida e no meu coração. A questão que me dilacera permanecerá por responder porque preferiste fugir a enfrentar as minhas interrogações. E eu só quero saber o porquê. Porque me deixas aqui, neste mirador de penitências desolado enquanto trilhas um caminho para longe, levando o que de mais precioso possuía: o nosso amor?

Ela: Empenhada em manter-me intacta nesta demanda por outros ares que não envolvam o teu aroma inebriante, calo os sentimentos que insistem em fincar-me os pés ao solo para que não me possa evadir deste sitio e deste amor. Revoltada por ter de lutar arduamente contra tudo o que me tenta prender a ti, ergo forças sobre-humanas e peço aos ventos que não arrastem as minhas tentativas de te escapar. Prefiro ainda, que acredites por agora, que nunca houve um grama de amor por ti neste supérfluo coração.

Ele: E enquanto deixo as lágrimas, das quais me envergonho, rolarem pela minha face, desenho, de olhos fechados, o teu rosto no solo árido. Ainda agora partiste e o meu coração já se fragmentou até se tornar numa nuvem invisível de átomos flutuantes, corroído pela saudade. E quando me forço a ver o teu retracto no chão, o pânico que tentava conter dilacera-me e uma onda de consciência arrebata-me, e eu finalmente admito que te perdi. Jogo o corpo inútil no chão e digno a prestar um funeral digno ao nosso amor. Sem ti, morri.

Ela: O que me dilacera verdadeiramente a alma não é a partida mas sim saber que vais ficar. E a forma como te deixo. Sem um Adeus, sem uma justificação, sem um último beijo. Todavia, creio conhecer-te cada recanto d'alma e cada sentir e sei assim que irás resistir á saudade quando esta tentar roubar-te as memórias da nossa História. Embala-nos nesta ausência enquanto o teu cerne o permitir e protege dentro de ti tudo o que um dia significámos enquanto fomos um do outro. Prometo-te, ainda que nas asas do silêncio, um dia poder ser a metade que te falta agora e reconstruir cada fragmento que causarei com este súbito e incompreendido abandono.

 [Ele: Rio de Sentimentos; Ela: Madrugada Cruel]


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Que o Rumor nos Abençoe



         Abre os olhos. Ele é apenas mais um estranho nos teus braços. Tentas enganar o teu corpo, juntando o calor dele a ti mas, na verdade, o teu corpo reconhece-me e rejeita o calor desconhecido. Por mais tentativas que faças de te consolar no aperto dele, nunca ficarás satisfeita na totalidade, porque nós temos uma história e ele nunca será eu.

         Passeias o teu olhar e os teus dedos delicados pelo corpo perfeito dele. Sei que ele é um regalo para ti. No entanto, todo esse cenário parece uma mentira descarada aos meus olhos. Sabes que lá no fundo, desejavas que ele, simplesmente, fosse outra pessoa.

         Nesta encruzilhada sem destino, pede à tua alma que te guie. Perdeste-te no caminho do pecado e agora afundas-te com a culpa que te verga. Pensas que me fazes ciúmes com amores carnais mas és tu que morres por dentro com os meus sorrisos sem ti.

         E com tamanho esforço, de fingida paixão, tentaste derreter-me o coração. Mas com tão fraca labareda, não conseguiste destruir a camada de gelo que o rodeia. E perdeste-te nos rumores de paixões ébrias de inveja e amores perdidos em dias de loucura. E, no final, eu peço a bênção a esses mesmos rumores.

sábado, 26 de novembro de 2011

Não Cobiçar as Coisas Alheias



Baixo o olhar com pesar. Tenho medo de contemplar os nossos rostos felizes naquele quadro eternizado. Naquele tempo, eu conseguia segurar na boca um sorriso. Hoje em dia, é-me impensável tal feito. E sinto tanto a falta de o poder fazer. Gostava de me relembrar como é que o fazia, pois creio que me roubaste o conhecimento dessa arte quando partiste.

E não foram somente os sorrisos que me tomaste. Tudo o que era felicidade, tudo o que me inundava com esses sentimentos, pura e simplesmente desapareceu. Levanto-me e jogo no jardim, nas rosas brancas que tu plantaste e que agora murcham, as boas recordações que tinha de nós. Agora que sei que não sou merecedor de tais preciosidades porque, se o fosse, ainda estarias a meu lado, fabricando mais desses tesouros.

Cerro os olhos. E, contra a minha vontade, imagino-te nos braços dele. A consciência sussurra-me que não devo cobiçar as coisas alheias. No entanto, ignoro tal conselho. São regras de um jogo que eu me recuso a jogar, por descrença. E, afinal, que Homem pode não invejar a perfeição?

domingo, 20 de novembro de 2011

Inferno - Não Olhes Para Trás



Antes de mais, não te esqueças da tua promessa. Eu vou lembrar-me, até porque o nosso amor dela depende. Por favor, cumpre a tua palavra, eu não quero voltar ao Inferno de onde me estás a salvar. Confia em mim desta vez e verás que não te arrependes. Imploro-te. Façamos o prometido e tudo irá nos correr de feição de agora em diante. De tudo o que possas fazer, apenas não olhes para trás.

Todo o meu corpo treme com violência, não por causa do frio inexistente, pois as paredes estão forradas de fogo violento, mas por estar completamente aterrorizado. Sinto-me tão incapaz. O meu papel, neste momento, cinge-se a colocar um pé à frente do outro, num ritmo constante, e seguir-te para fora daqui. Tenho a cabeça baixa e vejo o rasto que os meus pés deixam na areia incandescente, pegadas que espero não rever.

Vejo-te, depois de tanto tempo trancado nesta cave infernal. Mesmo de costas, a visão é suficiente para me deixar de lágrimas nos olhos. Mas não posso mostrar parte fraca neste momento ou os demónios não me pouparão. Tenho que ser forte por ambos. Então fungo, para impedir as lágrimas de se despenharem naquele solo amaldiçoado. E, quando ouves a minha fungadela, dás um passo mais hesitante e o meu coração parece parar.

Não te posso dizer para não parares, para continuares porque está tudo bem, porque o Diabo é esperto e selou-me os lábios para que não te possa ajudar. E isso só faz com que eu me sinta ainda mais inútil, ainda menos merecedor do teu amor. Quem sou eu para merecer que arrisques a tua alma a uma eternidade infernal se errarmos aqui? Que direito tenho eu, de te condenar só porque simplesmente me amas?

Então finco os meus pés com mais vontade no solo, fazendo barulho, numa tentativa de te incentivar a continuares e a não olhares para trás. Mas vejo nos teus ombros tensos e nos teus passos cada vez mais inseguros que estás prestes a ceder. Que não vais conseguir continuar com a marcha da salvação. E é quando tu cessas que eu sei que é o nosso fim. Deixo finalmente as lágrimas verterem e percorrerem o meu rosto e, quando vejo a tua bela face, aquela que sempre hei-de recordar, sou consumido pelas chamas com um sorriso no rosto.

Eu não te culpo. Como poderia eu se foste tu a alma corajosa que teve a audácia de se enfiar no Inferno para me salvar? Fizeste o teu melhor e estou-te eternamente agradecido. Apenas me destroça saber que arderás no infinito breve junto a mim. Mas, mesmo aqui em baixo, privado de tudo o que me é mais importante, ou seja, privado de ti, sei que o meu amor perdurará. Amo-te.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Bloqueio


Palavras, porque me faltam agora? Necessito verbalizar um pensamento. Estou a perder o momento. Então porque não surgem? Porque estão abrigadas em algum sítio longe do meu alcance. Preciso de vocês. É obrigatória a vossa comparência.  Sinto-me oco e incompleto, abandonado. Fui esvaziado e não sei como reagir porque não vos possuo. E fico parado no tempo. Paralisado. Completamente atordoado por não vos ter. E sinto-me a afundar por causa deste bloqueio. Voltem a mim. Não me deixem ficar aqui. Por favor.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Verdades



Há dias em que ouvir a verdade não é suficiente. Dias em que desejo escutar algo mais que as palavras de sempre, ditas no tom usual e proferidas pela mesma voz. Dias em que uma mentira me deixaria completamente satisfeito. Hoje seria um desses dias.
Estava abandonado num recanto da cama, escondendo o corpo debaixo dos lençóis, Empunhava um livro que não lia, que apenas servia de disfarce para te poder observar pelo canto do olho. Tu estavas inatingível, embrulhada em pensamentos incógnitos, o tipo de pensamentos pelos quais eu daria tudo para os saber.
Desviei o olhar de ti por uns momentos para contemplar o dia chuvoso que se desenhava lá fora. O barulho constante das gotas a embaterem no solo era o único calmante acessível no momento. Deitei um olhar nervoso ao relógio, cujo tique-taque me enlouquecia.
Ergueste-te, deixando no sofá o teu calor, que parecia desaparecer rapidamente nesta sala fria. Eu próprio fui percorrido por um arrepio, recordando todas as verdades que não eram mentiras que proferiste. Pegaste na mala e partiste porta fora. Para sempre.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Propriedades de um Fogo

Parte 1- Sem Fogo



Está a entardecer e começo a sentir como se fosse já demasiado tarde para mim. Vejo o Sol esconder-se atrás de umas cinzentas nuvens evitando, também ele, confrontar-me. Aqui, no meio deste cenário desolado que me cerca, deixo escorrer por entre os dedos os últimos grãos de esperança que me restam.
O vento vem sussurrar-me ao ouvido as palavras que eu já decorei e compreendi mil vezes. Ainda assim, ao escutar o sussurro mesquinho do vento, o meu coração parte-se em mais mil pedaços, ficando de tal forma despedaçado que tenho a certeza de que seria impossível repará-lo.
As nuvens cinzentas decidem então juntar-se à celebração da minha desistência e soltam, sobre mim, grossas e pesadas gotas de chuva que me recordam as lágrimas anteriormente derramadas. E, enquanto as sinto banhar-me, solto também eu lágrimas, deixando-me cair de joelhos sobre a lama.
E está tão frio. No meio desta tempestade de céu negro, vento sussurrante e chuva, eu tremo, pois já não tenho o meu fogo para me aquecer. Perdi-te.

Parte 2 - Com Fogo



Pousei o álbum em cima da mesinha de madeira e olhei em  frente, pensativo. Sentia tanto a tua falta que toda ela se estendia pelo meu peito, dilacerando-me a carne, como uma ferida aberta e exposta, que me deixava em chamas.
Voltei a puxar o álbum para o meu colo e folheei-o desenfreadamente, procurando por uma foto em particular. Quando a encontrei, não pude evitar que um sorriso se apoderasse dos meus lábios.
Pensei que a tinha perdido. Contudo a felicidade estava guardada naquela foto. O brilho dos nossos olhos, o sorriso nos nossos lábios... Simplesmente a expressão de bem-estar nos nossos rostos. Era tudo o que precisava.
Levantei-me e fui até à lareira onde as chamas crepitavam com entusiasmo. E, com todo o cuidado, colhi uma labareda e encostei-a ao peito. A ferida cicatrizou imediatamente. O meu fogo regressou.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

I Lost Love, in a Hopeless Place



I quit. Let me speak and tell the winds that I no longer want life living inside of me. Let me see the star’s shine one last time before I close my eyes for eternity and watch only darkness. Let me just taste the air that I breathe for this time, because after this I will no longer be breathing.

I’ve lost the thing I loved the most. Do you know how it is to live without hope? To live on a base of shattered dreams and unfulfilled promises? You just stare at the watch, seeing the hours pass and you feel your heart dying inside your chest. And there’s nothing, nothing you can do unless dying with your heart.

You crawl, slowly, to a hidden and dark corner, hoping, with any hope, that death doesn’t come too late. Because, if she does, you will die slower and the pain will consume you before the death does. You close your eyes and tears run from you, because they don’t want to be found in a corpse.

And you left yourself in that corner, because you don’t want to live with you no longer. Just because you’ve lost love in a hopeless place and, having it back is a lovely hopeless thought.