São dois quintos da minha vida e o pulsar da noite faz-se sentir na minha pele, irrigada por este luar de prata que me recorda, ligeiramente, de uma presença também ligeira de alguém que, um dia talvez, tenha habitado o meu coração. E sinto-me acolhido nos braços das estrelas que salpicam o negro do céu que nada dá a quem nada tem, esse céu egoísta que até das lágrimas nos priva.
São horas que passam e que eu não sinto passar, enquanto as fracções da minha vida se encurtam, tão lentamente quanto o tempo, e eu envelheço perdido em memórias. Ó passado tão tentador, se fosses presente haveria futuro dito promissor, mas não: és passado maldito que atormentas quem tudo teve e sofre por já não ter. E ris-te, porque és filho do tempo que te pariu, passado odiado!
São loucuras temporariamente permanentes que me assaltam e levam de mim a sanidade que explodiu em mil partículas com a partida do vento que varria o meu deserto. Já não há amenizador que acuda um pobre mendigo abandonado à crueldade da vida a suportar a solidão que se alimenta de sombras e saudades. E sinto-me tão inócuo que seria capaz de levitar e me juntar a ti, onde quer que estejas, não fossem estas trevas que me acorrentam ao solo.
São quatro sétimos da minha vida e ainda sinto a magia do veneno que circula dentro de mim. Que se deitem as culpas ao álcool que habita nas minhas veias e que o incendeiem junto comigo quando ele deixar de correr, pois sóbrio não quero ser existência. As cinzas que restarem daquilo que eu um dia fui, que se espalhem por sóis amenos e que se faça luz e calor, para que aqueles que nunca tiveram o que eu nunca tive, o possam ter. Que eu seja um catalisador de felicidade, nunca tendo sido feliz.
São nove nonos da minha vida e é tempo de eu partir de mim.
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