sábado, 29 de outubro de 2011

Só Ninguém Sabe



É de manhã e o sol desperta-me com carícias de luz que, apesar de serem suaves e doces, quase não conseguem tirar-me a vontade de ficar entre os lençóis. Tenho medo de enfrentar mais um dia, medo de deixar o abrigo que a cama me proporciona. Além disso é quando estou deitado aqui que me sinto mais perto de ti. É neste quarto que tenho as melhores recordações de nós, de quando ainda podia enlaçar a minha mão na tua.

A contragosto ergo-me, mantendo os lençóis encostados a mim, numa tentativa de captar ainda o teu cheiro, mesmo tendo tu partido há tanto tempo atrás. Sabes, eu nunca os lavei. Nunca os tirei da minha cama. Sempre os quis comigo, pois deitar-me com eles seria o mesmo que deitar-me contigo. Ser aquecido por eles era quase o mesmo que sentir o calor do teu corpo contra o meu. Quase desejei que estes lençóis me pudessem amar da mesma forma que tu me amavas.

A tua partida deixou o meu quarto transfigurado. É quase como se tivesse sido cometido um homicídio no seu interior e todo ele me culpasse. A maneira acusadora como as paredes me olham soltando impropérios, responsabilizando-me por teres ido embora. A luz que não se acende, protestando, recusando-se a iluminar um quarto sem o teu amor. Tudo isto é culpa é culpa minha.

E ainda hoje eu faço-me de forte. Faço de conta de que nada disto me afecta. Esta mania que o homem tem de ser superior a todos os assuntos do coração rege-me e eu deixo. Sabes porquê? Porque só ninguém sabe que eu sinto a tua falta. E só ninguém saberá.

1 comentário:

Vanessa Kiekeben disse...

lindo como sempre. Adoro o dom que tens com as palavras :)