sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Arte de Bem Morrer


Primeiro, o tempo pára. Literalmente. E começas a ser invadido por uma sensação de calma que te deixa completamente paralisado. É como se, instantaneamente, todo o mundo se estagnasse e o teu corpo refreasse. E então, lentamente, o teu coração palpita gentilmente. E, num crescendo acelerado, ele passa a um estado de vibração tresloucado que não te deixa respirar. O teu fôlego é-te arrancado sem misericórdia e arregalas os olhos, surpreso. Continuas estático, sem conseguires pensar em mais nada a não ser numa maneira de pores oxigénio a correr nas tuas veias o quanto antes. Por esta altura passou-se um segundo que te soube a horas. E mais ou menos agora pensas em desistir, pensas que por mais que te esforces não voltas a respirar. E é então que acontece. Sugas uma lufada de ar pelos lábios secos que te abala e faz com que os joelhos te cedam e te atirem ao chão. Uma dor alastra-se no teu peito com epicentro no teu miocárdio. Levas lá uma mão em forma de garra, tentando conter o sofrimento que te tortura. E, desalmadamente aspiras ar, apenas para morreres mais depressa, Tão depressa como começou, termina. O coração solta um gemido inaudível e cessa. Dás por ti deitado de barriga, com a mão que apertavas o peito esborrachada debaixo de ti. Nesta altura sabes que é o fim, Tens dois rios de lágrimas soltas a marcarem o teu rosto que tem uma expressão petrificada. Todo o teu corpo está dormente, como se te tivesse sido aplicada uma anestesia geral. E pensas para ti que afinal, morrer não dói. Sabes que não deves resistir pois por mais forte que te faças maior será a tua tortura. Lembras-te dos bons momentos que passaste, das pessoas de quem vais sentir saudades e das coisas que não poderás voltar a fazer. A tua mente inicia um devaneio, fazendo-te passar pela cabeça imagens de anjos a cantarem, Não te resta muito. Tentas colocar um sorriso para fingires que tiveste uma partida pacífica mas desenhas, em vez, um esgar. E acabou. Tudo o que resta de ti é o corpo inerte e mole que deixaste para trás, quando te extinguiste. Morreste.

2 comentários:

Dário Rodrigues disse...

O tema tá bem de acordo com o texto.

Gostei. É giro visualizar a situação.

Morrer não dói... o que dói é o medo de morrer.

Wild_Devil disse...

Nem mais, Dário!
Obrigado!