domingo, 2 de outubro de 2011

Campo de Batalha


Perdemos. Admitamos a derrota como adultos que nunca fomos. Púnhamos sorrisos de enfeite nos nossos rostos enquanto acenamos ao mesmo tempo a bandeira branca da rendição.  Fomos guerreiros suicidas nesta batalha inglória. Resta-nos regressar às nossas casas, separados, curar as feridas que em nós ficaram marcadas e que, com certeza, serão as cicatrizes de guerra que mais amaremos.

Será luz que eu vejo ao retornar? Pensei estar tão errado na nossa rendição. Afinal, desistir da batalha que enfrentávamos era sinónimo de desistir de ti. E no entanto, também a tua mão se juntou à minha, erguendo o mastro que sustentava o pano com a cor da paz. Mas estaremos nós nesse estado inatingível? Reformulo: estaremos nós em paz, estando os nossos corações separados?

Queria perder as memórias que ganhei no campo de batalha. Queria perdê-las como este riacho que corre junto aos meus pés perde a lembrança das pedras que beija na sua passagem. No entanto, sou tão teimoso quanto as pedras deste riacho: ambos mantemos as memórias dessa passagem. Afinal, como podia eu abandonar tais memórias? Nem o mais vil e cobarde dos seres esquece o amor…

Cada palavra sussurrada ao meu ouvido. Sabes a que me soava? Soava-me a um coro composto por fadas, entoando um canto mágico, que me deixava completamente hipnotizado, extasiando-me ao ponto de desejar que tais palavras nunca cessassem. E ainda assim, tal era sensação era ultrapassada quando comparada com as memórias das trocas de calor dos nossos corpos.

Mas já nada disto me pertence. Fui feliz contigo, mesmo nunca te tendo realmente, pois as bombas que mergulhavam do céu e as minas que se escondiam no solo mantinham-nos apartados. Contudo, sempre fomos duas fracções opostas que lutavam por um objectivo comum: o nosso amor. No final, o relatório desta guerra tinha, carimbado a vermelho, em letras bem grandes, “missão falhada”…

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