quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Propriedades de um Fogo

Parte 1- Sem Fogo



Está a entardecer e começo a sentir como se fosse já demasiado tarde para mim. Vejo o Sol esconder-se atrás de umas cinzentas nuvens evitando, também ele, confrontar-me. Aqui, no meio deste cenário desolado que me cerca, deixo escorrer por entre os dedos os últimos grãos de esperança que me restam.
O vento vem sussurrar-me ao ouvido as palavras que eu já decorei e compreendi mil vezes. Ainda assim, ao escutar o sussurro mesquinho do vento, o meu coração parte-se em mais mil pedaços, ficando de tal forma despedaçado que tenho a certeza de que seria impossível repará-lo.
As nuvens cinzentas decidem então juntar-se à celebração da minha desistência e soltam, sobre mim, grossas e pesadas gotas de chuva que me recordam as lágrimas anteriormente derramadas. E, enquanto as sinto banhar-me, solto também eu lágrimas, deixando-me cair de joelhos sobre a lama.
E está tão frio. No meio desta tempestade de céu negro, vento sussurrante e chuva, eu tremo, pois já não tenho o meu fogo para me aquecer. Perdi-te.

Parte 2 - Com Fogo



Pousei o álbum em cima da mesinha de madeira e olhei em  frente, pensativo. Sentia tanto a tua falta que toda ela se estendia pelo meu peito, dilacerando-me a carne, como uma ferida aberta e exposta, que me deixava em chamas.
Voltei a puxar o álbum para o meu colo e folheei-o desenfreadamente, procurando por uma foto em particular. Quando a encontrei, não pude evitar que um sorriso se apoderasse dos meus lábios.
Pensei que a tinha perdido. Contudo a felicidade estava guardada naquela foto. O brilho dos nossos olhos, o sorriso nos nossos lábios... Simplesmente a expressão de bem-estar nos nossos rostos. Era tudo o que precisava.
Levantei-me e fui até à lareira onde as chamas crepitavam com entusiasmo. E, com todo o cuidado, colhi uma labareda e encostei-a ao peito. A ferida cicatrizou imediatamente. O meu fogo regressou.

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