sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Fragmento de Memória




            Brilhante. O sol resplandece com esplendor, num céu imaculado, sem qualquer nuvem no horizonte. O vento sopra calmo e preguiçoso, despenteando-me o cabelo enquanto caminho. Sinto o chão morno debaixo dos meus pés, aquecido pelos raios solares. Está, definitivamente, um belo dia.
            Decido visitar um dos nossos lugares. Ainda hoje, tanto tempo depois da tua partida, os sei. De cor. Desço pela rua e, mais à frente, avisto-o. Entro pelo portão oeste do jardim, aquele pelo qual saímos num dos dias em que mergulhamos juntos na felicidade.
            Tudo permanece igual. E, ainda assim, vejo tudo de maneira tão diferente tão diferente. As sombras das árvores, que anteriormente convidavam a ficar ao seu abrigo, parecem-me demasiado frias. O festival colorido composto pelo mar de flores que tudo embelezava é agora nada mais do que um bouquet gigantesco deixado em nossa memória. E o silêncio, o silêncio da natureza, outrora a música de fundo das nossas conversas, pesa-me sobre os ombros como notas dissonantes.
            Tento ignorar todas estas diferenças e imaginar que este ainda é aquele templo capaz de preservar o nosso amor. Avisto o nosso banco, aquele onde nos sentávamos de todas as vezes. Está vazio. Sento-me, fecho os olhos e permito-me recordar-te. Lembro-me do teu sorriso quando estavas feliz, das tuas gargalhadas quando te rias das minhas piadas. As tuas faces coradas, quando reuni coragem para te dar a mão. A suavidade da tua pele quando entrelaçaste os teus dedos nos meus.
            Está tudo aqui, guardado neste jardim, guardado neste banco. Exposto e ainda assim apenas acessível a mim. Levanto-me, sorrindo, e vou-me embora. Sei que este fragmento de memória ficará bem guardado. Para que, sempre que o queira, poder recordar-nos.

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