domingo, 20 de novembro de 2011

Inferno - Não Olhes Para Trás



Antes de mais, não te esqueças da tua promessa. Eu vou lembrar-me, até porque o nosso amor dela depende. Por favor, cumpre a tua palavra, eu não quero voltar ao Inferno de onde me estás a salvar. Confia em mim desta vez e verás que não te arrependes. Imploro-te. Façamos o prometido e tudo irá nos correr de feição de agora em diante. De tudo o que possas fazer, apenas não olhes para trás.

Todo o meu corpo treme com violência, não por causa do frio inexistente, pois as paredes estão forradas de fogo violento, mas por estar completamente aterrorizado. Sinto-me tão incapaz. O meu papel, neste momento, cinge-se a colocar um pé à frente do outro, num ritmo constante, e seguir-te para fora daqui. Tenho a cabeça baixa e vejo o rasto que os meus pés deixam na areia incandescente, pegadas que espero não rever.

Vejo-te, depois de tanto tempo trancado nesta cave infernal. Mesmo de costas, a visão é suficiente para me deixar de lágrimas nos olhos. Mas não posso mostrar parte fraca neste momento ou os demónios não me pouparão. Tenho que ser forte por ambos. Então fungo, para impedir as lágrimas de se despenharem naquele solo amaldiçoado. E, quando ouves a minha fungadela, dás um passo mais hesitante e o meu coração parece parar.

Não te posso dizer para não parares, para continuares porque está tudo bem, porque o Diabo é esperto e selou-me os lábios para que não te possa ajudar. E isso só faz com que eu me sinta ainda mais inútil, ainda menos merecedor do teu amor. Quem sou eu para merecer que arrisques a tua alma a uma eternidade infernal se errarmos aqui? Que direito tenho eu, de te condenar só porque simplesmente me amas?

Então finco os meus pés com mais vontade no solo, fazendo barulho, numa tentativa de te incentivar a continuares e a não olhares para trás. Mas vejo nos teus ombros tensos e nos teus passos cada vez mais inseguros que estás prestes a ceder. Que não vais conseguir continuar com a marcha da salvação. E é quando tu cessas que eu sei que é o nosso fim. Deixo finalmente as lágrimas verterem e percorrerem o meu rosto e, quando vejo a tua bela face, aquela que sempre hei-de recordar, sou consumido pelas chamas com um sorriso no rosto.

Eu não te culpo. Como poderia eu se foste tu a alma corajosa que teve a audácia de se enfiar no Inferno para me salvar? Fizeste o teu melhor e estou-te eternamente agradecido. Apenas me destroça saber que arderás no infinito breve junto a mim. Mas, mesmo aqui em baixo, privado de tudo o que me é mais importante, ou seja, privado de ti, sei que o meu amor perdurará. Amo-te.

2 comentários:

Vanessa Kiekeben disse...

Oh que lindo. Este tocou-me a alma um pouco mais fundo que todos os outros. Escreves tão bem que as lágrimas surgem-me no olhar quando te leio. Continua e obrigada pela inspiração :D

Wild_Devil disse...

Obrigado Vanessa! :D